Escrito por: Concita Alves

RN: Sem receber salários, médicos de Natal paralisam atividades em unidades de saúde

Há três meses sem salários, médicos da rede pública de Natal que prestam serviços para uma OS, iniciaram paralisação nesta quinta-feira (24)

Reprodução/Instagram

Em meio a uma nova onda de casos de Covid-19, com alta nacional de casos e mortes provocadas pela doença, os  médicos da rede pública municipal de Natal, contratados por meio da Cooperativa Médica do Rio Grande do Norte (Coopmed-RN) paralisaram as suas atividades nesta quinta-feira (24). O motivo da greve é que a categoria está há três meses sem receber salários da terceirizada. 

Estão funcionando com 30% da capacidade os Ambulatórios Médicos Especializados (AMes), as Unidades de Pronto atendimento (UPAS) e as portas de urgências. As maternidades e o SAMU estão funcionando normalmente. Já os serviços de alta e média complexidade seguem funcionando somente para pacientes internados, assim como as cirurgias de urgência.

As informações são da Coopmed-RN, cuja justificativa para o não pagamento dos salários é que a Prefeitura de Natal não apresentou previsão para os pagamentos em aberto. 

Em resposta, a Secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) afirma que os repasses dentro do termo de cooperação entre o estado e o município de Natal são feitos normalmente, contemplando variados serviços de saúde na capital potiguar.

Os trabalhadors e o povo sempre pagam a conta da terceirização 

A prefeitura de Natal passou a administração das UPAs e AMEs para as chamadas  Organizações Sociais, entre os anos de 2010 e 2012. Na época, a prefeita era Micarla de Souza (PV). Ela colocou em andamento o processo de privatização, por meio da aprovação da Lei Municipal 6.108, de 02 de junho de 2010.

E as confusões começaram. Assim que aprovou a lei, prefeita imediatamente contratou o Instituto Pernambucano de Assistência Social (IPAS) para gerir a UPA Dr. Ruy Pereira (conhecida como a UPA de Pajuçara), na Zona Norte da capital

Mas, como o contrato foi feito sem licitação e passou a ser investigado por meio de um inquérito civil aberto pelo Ministério Público Estadual (MPE), em razão de uma inconstitucionalidade na lei que autorizou a terceirização, o IPAS desistiu do contrato, mesmo tendo vencido a licitação seguinte. 

A prefeitura, então, declarou vencedora a Associação Marca, a segunda colocada no processo licitatório da UPA, que desde novembro de 2010 já administrava os AMEs em Natal.

Até hoje os trabalhadores e a população pagam a conta da pressa da prefeita em passsar adiante as unidades de saúde, como acontece em todos os processos de privatização, a conta sempre é paga pelo povo.

No último dia 16 de novembro, a diretoria do Sindicato dos Médicos do Rio Grande do Norte (Sinmed RN) esteve na UPA de Pajuçara para averiguar as condições da ala pediátrica, fechada desde o dia 1º de novembro. Concluíram que, além da falta de profissionais com especialidade em pediatria para montar a escala, a estrutura sucateada também compromete a qualidade do atendimento. A direção do sindicato encontrou na ala pediátrica infiltrações, mofo, rede elétrica desgastada, camas velhas e enferrujadas, equipamentos corroídos pela ferrugem, entre outros problemas. 

Contratos superfaturados

Enquanto o povo sofre, muitos faturam, inclusive ilegamente. Em junho de 2012, o  Ministério Público do Estado do RN desencadeou a operação Assepsia, que apurou um esquema de contratos fraudulentos e superfaturados na Secretaria de Saúde de Natal, por meio das Organizações Sociais (OSs). O inquérito resultou na condenação de gestores e empresários a 16 anos de prisão em regime fechado pelos crimes de desvio de recursos públicos e de associação criminosa.

Mas, o juiz federal Mario Jamboa absolveu a ex-prefeita de Natal Micarla de Sousa da acusação de fraude em licitação no contrato com a Associação Marca. Além dela, foram absolvidas outras 14 pessoas dos crimes de dispensa indevida de licitação e de fraude à licitação em relação à contratação da Associação Marca, segundo o G1.