Dirigentes sindicais cobram reestatização da refinaria vendida pela Petrobras no RN
A gasolina e diesel vendidos pela 3R, para abastecer o mercado interno no Rio Grande do Norte, provém dos Estados Unidos e Europa. Venda da refinaria foi feita durante o governo Bolsonaro
Publicado: 15 Setembro, 2023 - 10h09 | Última modificação: 15 Setembro, 2023 - 13h07
Escrito por: Concita Alves | Editado por: Rosely Rocha
A refinaria Clara Camarão, localizada em Guamaré, no Rio Grande do Norte, não consegue processar o petróleo bruto e transformá-lo em gasolina e diesel, importando esses insumos, alegou o gerente de novos negócios da empresa, Kim Pedro, para tentar justificar os preços pagos pela população do estado pelos combustíveis.
“O único produto que conseguimos entregar de maneira pronta ao mercado é o querosene de aviação. Os demais, hoje, dependem totalmente da importação e da cadeia logística de abastecimento internacional”, revelou Kim Pedro, gerente de novos negócios da 3R, durante uma audiência pública realizada na terça-feira (12), na Assembleia Legislativa do Estado (ALRN), para que a Empresa 3R Petroleum explicasse o modelo de produção e de precificação da companhia no estado.
A unidade foi comprada pela 3R no governo de Jair Bolsonaro (PL), e atualmente produz apenas querosene de aviação. Por isso, para abastecer os 60% do mercado interno pelo qual é responsável, a empresa importa gasolina e diesel dos Estados Unidos e da Europa. Daí resultaria a conta que faz do combustível vendido no Rio Grande do Norte o mais caro do país, segundo Kim.
A 3R assumiu o Polo Potiguar há cerca de três meses, quando foi concluída a compra no 7 de julho deste ano. A 3R existe há 10 anos e chegou ao RN em 2019, com a compra do polo de Macau. Atualmente, a empresa já soma um total de oito aquisições em terras potiguares, o que representa 50% dos investimentos e pessoal da empresa, que está presente em cinco estados.
“É uma unidade de refino que produz querosene de aviação nas condições que a ANP [Agência Nacional de Petróleo] exige para o consumidor. No caso do diesel e da gasolina, isso não é possível, o mais próximo que sai é uma Nafta NDD e o diesel é de alto enxofre, que também não podemos consumir. O modus operandi atual não muda em relação ao anterior a junho, o antigo operador também trazia de fora do seu sistema o diesel e gasolina fornecidos através do Polo de Guamaré”, detalhou Pedro.
O Coordenador-geral do Sindpetro (Sindpetro-RN), Ivis Corsino, levantou questionamentos sobre o que está acontecendo com o preço do diesel e da gasolina no estado, e pressionou por mudanças.
“Por alguma razão, vemos uma redução na produção de derivados. Dentre algumas mudanças na gestão com a entrada da 3R, que tem toda legitimidade para fazer sua administração, chama nossa atenção a queda de produção de derivados de petróleo na Clara Camarão. Nessa cadeia do petróleo é preciso compreender algumas coisas, uma delas é saber de onde vem o suprimento de gasolina e diesel da 3R, já que ela responde pelo abastecimento de 60% da demanda local? Estamos comprando dos Estados Unidos? Da Europa? Da própria Petrobras?”, provocou Ivis Corsino, que também observou a contradição com a queda do custo de importação por metro cúbico no mercado internacional, e aumento no RN.
Irailson Nunes, presidente da CUT-RN, em entrevista na quarta-feira (13) concedida ao jornalista Ângelo Girottto, do Blog do Girotto, sobre os preços dos combustíveis praticados pela 3R no estado, falou sobre a situação da indústria do petróleo no RN, além de registrar sua preocupação quanto às denúncias que envolvem a privatização da Petrobras no Rio Grande do Norte. Para Iraílson Nunes, diante da gravidade das denúncias apresentadas e dos males causados à população do estado, o caminho para resolução do impasse é a reestatização dos Ativos da Petrobras no Rio Grande do Norte.
Para a CUT, a Petrobras é instrumento estratégico de desenvolvimento econômico e social, contribuindo para a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e regional, geração de emprego e renda para os brasileiros. O presidente da Petrobrás vem desenvolvendo com êxito e afinco um trabalho de recuperação e fortalecimento da maior empresa do Brasil.
“A Petrobras possui capacidade operacional muito maior, é muito mais competitiva e eficiente. Veja que as refinarias da Petrobras vendem a gasolina mais barata do Brasil. O Rio Grande do Norte tem muito a ganhar com a volta das operações da refinaria para nossa empresa, a Petrobras”, concluiu.
O presidente da CUT-RN, cobra ainda uma investigação sobre vendas para a 3R, e conclama para que todos assinem um abaixo-assinado organizado por trabalhadores da Petrobras, que exige auditoria nos processos de privatização que envolvem a 3R no estado. Acesse aqui o abaixo-assinado por sindicância nas privatizações.
Iraílson Nunes, lamenta ainda que “o povo potiguar esteja pagando o preço dessas privatizações irresponsáveis. É só você ver que somos um dos maiores produtores do país e pagamos a gasolina mais cara. Li muito sobre isso, inclusive aqui no blog, e fiquei chocado, como todo mundo. São indícios muito fortes de que o governo Bolsonaro vendeu o patrimônio público de forma irresponsável e criminosa”, disse.
“Os trabalhadores também foram penalizados. Muitos transferidos de seu estado, terceirizados deixados sem perspectiva de emprego. Temos que reverter esse quadro, pra ontem”, complementou.
Durante a audiência, o representante do sindicato dos postos de combustíveis , Maxwell Flor, defendeu que a categoria não era a responsável pelo elevado preço da gasolina no estado.
“Os preços praticados pelos postos acompanham os preços praticados pelas distribuidoras. Para comprar gasolina mais barata, existe uma questão logística e de quotas com as outras empresas, não adianta querer comprar no Ceará ou na Paraíba porque eles vão suprir o mercado local primeiro, postos não podem comprar das refinarias, mas das distribuidoras”, justificou Maxwell Flor.
A audiência foi organizada em conjunto pela Comissão de Educação, Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento Socioeconômico, Meio Ambiente e Turismo, presidida por deputada estadual Divaneide Basílio (PT), Isolda Dantas (PT) e pela Comissão de Defesa do Consumidor, dos Direitos Humanos e Cidadania, presidida por Ubaldo Fernandes (PSDB).
Participaram da audiência deputados e deputadas estaduais, representantes da empresa, sindicato e categoria.