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Privatização da CBTU pode levar à extinção dos trens urbanos em Natal

As ameaças de privatização das estatais, incluindo a CBTU, dada pelo ministro da fazenda Paulo Guedes e pelo Presidente Jair Bolsonaro colocam em risco o funcionamento dos trens urbanos em capitais menores.

Publicado: 27 Junho, 2019 - 13h36 | Última modificação: 27 Junho, 2019 - 13h43

Escrito por: Joan Pedro

Joan Pedro
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Privatização da CBTU pode levar à extinção dos trens urbanos em Natal

O Sistema de trens urbanos de Natal, inaugurado em 1988 com operação da CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), atende por dia uma média de 13 a 16 mil pessoas da região metropolitana da capital potiguar sendo operada por duas linhas: a Sul (Natal/Parnamirim) e a linha Norte (Natal/Ceará-Mirim).

As ameaças de privatização das estatais, incluindo a CBTU, dada pelo ministro da fazenda Paulo Guedes e pelo Presidente Jair Bolsonaro (PSL) colocam em risco o funcionamento dos trens urbanos em capitais menores. É o caso de Natal, João Pessoa e Maceió, visto que o grande capital não tem interesse em manter uma empresa funcionando para gerar pouco lucro comparado ao que grandes cidades podem gerar, o que significa em prática a extinção das linhas de trens nessas cidades, prejudicando os trabalhadores e trabalhadoras que utilizam diariamente o sistema.


É o caso de Socorro Albuquerque, recepcionista, residente em Extremoz e usuária da linha norte. Ela relata a economia semanal e mensal utilizando o sistema de trens que tem tarifa de 0,70 centavos e a partir de 7 de Julho passará a ser R$ 1. ‘’Já contando com o próximo aumento, por semana, eu gasto em torno de R$ 10, enquanto de ônibus, saindo de Extremoz eu gastaria em torno de R$ 42. Ou seja, o dinheiro gasto por semana utilizando ônibus é o que eu gasto por mês usando o trem‘’, comentou.

Para Amaral, trabalhador aposentado da CBTU, tem que pensar o trem como facilitador da mobilidade urbana para a população mais pobre e afastada dos grandes centros e que de certo modo não tem condições de pagar as passagens intermunicipais dos ônibus diariamente ‘’O objetivo do trem em Natal é atender a população mais carente e mais afastada do centro, com a extinção do trem, você impede que a população vá aos locais de trabalho. A Privatização da CBTU vai ser um ‘caixão’ para os trabalhadores, semelhante ao que aconteceu na rede ferroviária, onde posterior às privatizações, as empresas que compraram as ferrovias começaram a tirar os investimentos‘’, afirmou o aposentado.


Como todo processo de privatização, um dos argumentos mais utilizados pelos que têm interesse é a precarização do sistema. Na CBTU não é diferente, Jorge Luiz da Silva, coordenador geral do Sindicato dos Ferroviários (SinteFern) comenta o descaso ‘’Aqui ainda teve conversas que em Julho, os trens parariam em Natal, por falta de recursos e que muitas peças já estavam faltando, porém, apesar disso a situação mais crítica de descaso não é aqui, mas em cidades como Recife e Belo Horizonte, onde cotidianamente os trens quebram, as estações estão abandonadas, existem emendas nas catenárias (caminhos de ferros), o que pode gerar acidentes. Além do PDV, que resultou na demissão de 600 funcionários. Vale salientar que nessas capitais existe um forte interesse das empresas na privatização da CBTU, devido o grande número de usuários‘’, declarou.

Além disso, Jorge explica que os editais de privatizações são inconstitucionais, pois segundo a constituição, a privatização do sistema tem que ser dado a nível estadual, ou seja, logo após a estadualização da CBTU. ‘’O Edital de privatização já saiu e está previsto para ser repassado para o setor privado no segundo semestre de 2022, mas eles estão fazendo de forma errada e inconstitucional, pois existe uma resolução na constituição que permite que o sistema primeiro fique na responsabilidade do estado, para depois, se for de interesse do governo local abrir concessão para a iniciativa privada. O que acontece no atual edital é uma privatização de forma atravessada, irregular e que vai prejudicar funcionários e usuários‘’ disse por fim.


Com os recursos congelados, os investimentos pararam e vários projetos da CBTU Natal foram arquivados, inclusive a primeira fase da modernização do sistema que visava aumentar o número de Veículos Leves Sobre Trilhos (VLT’S) de 5 para 12, diminuindo consideravelmente o intervalo de um trem para outro, aumentando o fluxo de passageiro. A criação de novas linhas também ficou só no papel. Segundo o Sindicato dos Ferroviários, se os projetos que estão engavetados fossem colocados em prática, o número de passageiros poderia dobrar e o prejuízo alegado pelo governo federal não seria argumento para a privatização.

Recentemente, a justiça autorizou um aumento gradual nas passagens nas capitais onde a CBTU opera com a justificativa de suprir os prejuízos. Em Natal, por exemplo, essa ação já vai resultar num aumento de 0,30 centavos na tarifa a partir do dia 7 de julho deste ano, passando de 0,70 centavos para R$ 1 e com estimativa que em 2020 a passagem já saia de R$ 1 para R$ 2.

 

Edição: Bruna Torres