Escrito por: Bruna Torres/Saiba Mais

Lula arrasta mais de 200 mil pessoas em festival no Recife

Festival Lula Livre aconteceu na praça Nossa Senhora do Carmo, em Recife

Ricardo Stucker

Recife – “Eu estou vendo os salários desaparecerem; estou vendo a aposentadoria cada vez mais distante do povo trabalhador e estou vendo que estamos com dificuldade em reagir”, disse o ex-presidente Lula durante o discurso a um mar vermelho que esteve na Praça Nossa Senhora do Carmo, no bairro Santo Antônio, na região central do Recife (PE) neste domingo, durante o primeiro Festival Lula Livre com a presença do líder petista.

A tão esperada chegada de Lula se deu por volta das 18h30, depois de diversos artistas passarem pelo palco ao longo da tarde. O ex-presidente canalizou o discurso em eixos ligados aos ataques proferidos pelo governo Bolsonaro à classe trabalhadora; às arbitrariedades do ministro da justiça Sérgio Moro; aos dias em que ficou na prisão e, principalmente, fez agradecimentos ao presidenciável e ex ministro da educação Fernando Haddad, que também esteve no palco ao lado do líder petista. Com palavras de gratidão, Lula direcionou reconhecimento a Haddad pela campanha de 2018, além de gentilmente ter mencionado os artistas que construíram a festa, ressaltando a importância de valorizar e incentivar à cultura.

Ao longo de sua manifestação, Lula falou sobre sua nova paixão e de como tem se sentido jovem, “com energia de alguém com 30 anos e tesão de alguém de 20”. Aproveitando o momento, chamou a companheira Rosângela da Silva para se aproximar e a apresentou ao público que, em resposta, lançou em coro: “beija, beija!”. Sem graça, o ex presidente falou que era tímido e não iria atender aos pedidos. Mas a namorada  foi mais ágil e lascou um beijo no presidente, deixando o público em delírio.

O festival teve início ao meio dia e contou com mais de 40 artistas, blocos de carnaval e rodas de samba. De acordo com a organização do evento, mais de 200 mil pessoas passaram pela praça Nossa Senhora do Carmo.

Da constelação de estrelas que participaram do ato cultural e político para celebrar a liberdade do ex-presidente estavam Otto, Mundo Livre S/A, Marcelo Jeneci, Odair José, Aline Calixto, Francisco El Hombre, Lia de Itamaracá, Digitaldubs, Siba, Johnny Hooker e Chico Cesar.

A festividade estava marcada antes mesmo do alvará de soltura que libertou o presidente no último dia 8. Mas com a confirmação da presença do líder, o evento ganhou uma grande proporção e mobilizou movimentos sociais e pessoas de toda região Nordeste.

Com a notícia da primeira visita de Lula ao coração do Brasil, a capital pernambucana recebeu muitas caravanas dos estados vizinhos. De Natal, a exemplo, três ônibus de viagem organizados pelo Comitê Lula Livre do RN seguiram com destino a Recife.

Essa foi a terceira vez que o presidente falou com seus fãs e admiradores após sair da prisão. A primeira aconteceu em Curitiba, minutos depois de deixar o prédio da Polícia Federal. No dia seguinte, Lula discursou para mais de 50 mil pessoas em frente a sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo, interior de São Paulo.

Ao longo da tarde, debaixo de sol forte, muita gente, entre crianças, idosos, cadeirantes e bebês de colo foram tomando o largo da Praça do Carmo que se transformou em um verdadeiro carnaval fora da época. O evento teve direito a muito glitter, camisetas vermelhas e adereços de todos os tipos.

No decorrer da programação, a banda pernambucana Mundo Livre entrou no palco no fim da tarde fazendo referência a importância desse momento histórico para democracia e criticando a Rede Globo por estar “silenciando o momento”, disse Fred, vocalista do grupo.

Logo depois, o palco foi ocupado por mulheres. Primeiro Bia Ferreira e em seguida Doralice, que marcou presença usando uma blusa estampada de Dilma Roussef e dedicou sua luta à mãe e a ex-presidenta. Para a cantora, o golpe contra Roussef em 2016 foi machista e misógino. Enquanto se apresentava, Carla Guino fazia a mixagem da rapper. No fim, as mulheres terminaram o show com gritos de “salve o rap nacional”, em um apelo à resistência da cultura da periferia.

Ainda com o palco ocupado por mulheres, Raissa Dias, também pernambucana, “puxou um breguinha” para aquecer a noite “já que estamos em Recife, o país do brega”, declarou. A música de Raissa Dias é “um som que ecoa de dentro da favela”, disse a artista, que mais adiante finalizou sua performance declarando que “mulher também pode cantar brega funk”.

Na sequência, o grupo Francisco El Hombre, conhecido por apresentações características, subiu ao palco às 18h com a canção “triste, louca ou má”. Os quatro componentes da banda vestiam trajes iguais que remetiam ao uniforme da seleção brasileira. O quarteto levou a multidão a sair do chão agitando com os sons latinos.

Mudando de contexto musical, Odair José foi uma das atrações muito esperada pelo público. O cantor chegou ao palco embalando o povo com os clássicos “vou tirar você desse lugar” e “cadê você”.

Uma das preocupações tidas pela organização do espaço foi garantir que as atrações fossem inclusivas e por isso, um interprete de libras esteve presente ao longo de toda programação. Não só aos surdos, mas também aos cadeirantes, que tiveram um espaço privilegiado na frente do palco. Lucas Nascimento, estudante e militante do Levante Popular da Juventude, veio em caravana de Aracajú só para encontrar o presidente Lula pela primeira vez. O rapaz usava bonés e camisetas do movimento ao qual faz parte e curtia os shows de sua cadeira, com muita emoção.

Já Vagner Faísca, produtor artístico, esteve plantado na frente da grade e contou que esperaria ver Lula o tempo que fosse porque queria ter um livro autografado. Guerreiro e persistente, Vagner conseguiu gritar e gesticular o suficiente para sinalizar o pedido ao presidente e, com sucesso, teve seu livro assinado.

Via: Saiba Mais