Escrito por: Redação CUT/RN e Assessoria

Em livro, jornalista conta histórias do sertão do RN

"Entre a Serra Azul e o Sertão" fala da trajetória de um casal que viveu suas histórias em meados do sec. XX entre a Serra de Santana, antes conhecida como Serra Azul, e o sertão de Currais Novos

Cedida/Ian Rassari
Em livro, jornalista Ângela Bezerra conta histórias do sertão do RN e de sua família

A jornalista Ângela Bezerra lança, nesta terça-feira (09), o livro “Entre a Serra Azul e o Sertão”, que conta histórias sobre seus pais: Luiz e Angelita. O título faz referência à região onde se passam os fatos: a Serra de Santana, antes conhecida como Serra Azul, e o sertão de Currais Novos. O evento acontece no Flora Café em Petrópolis, a partir das 18h, e contará com show de Marília Lino e Ricardo Baya. A obra é editada pela CJA Edições e também será lançada durante a Festa de Santana em Currais Novos, no próximo dia 16.

A ideia do livro surgiu depois da morte de Luiz Bezerra em 2017, aos 93 anos, decorrente das complicações de um AVC. Depois que foi acometido pelo Mal de Alzheimer, ele passou a registrar suas histórias em um caderno que mantinha em seu armarinho, como forma de exercitar o cérebro. “Em uma conversa com minha mãe, ela me mostrou o caderno e vi que as histórias escritas lá são muito boas, como quando a família dele morava em Natal e ele, criança, levava o almoço para o tio todos os dias no presídio perto de casa. Esse tio havia assassinado o delegado de Currais Novos numa emboscada por um motivo surreal”, conta a autora.

Assim, Ângela decidiu reunir aquelas histórias escritas no caderno do pai com outros episódios contados pelos irmãos dele – Anita e Aristides – posteriormente entrevistados por ela. Eles acrescentaram detalhes aos fatos escritos por Luiz Bezerra e até contaram outras histórias da infância deles na fazenda Serrota Pintada, em Currais Novos. Um dos mais impactantes, tanto contado por Luiz, quanto confirmado pelos irmãos, foi o fato de o bisavô deles, Francisco Bezerra de Medeiros, ter deserdado o filho, Joaquim, por se casar com Júlia, uma moça “de cor” aos olhos do patriarca.

Outro episódio foi gravado em áudio por Ângela quando Luiz ainda era vivo e que, depois de atingido pelo Mal de Alzheimer, sempre repetia: quando ainda era um menino, precisou ir de Lagoa Nova até a Serrota Pintada a pé para saber do pai, a mando da mãe. “Era a década de 30, época da Intentona Comunista, e havia subido a serra a notícia de que os comunistas estavam invadindo o interior do estado e ameaçavam tomar todas as propriedades. Como meu avô Joaquim estava fora de casa já há uma semana sem mandar notícias, a família não sabia o paradeiro dele. E lá foi meu pai, uma criança, enfrentar essa aventura”, detalha.

A intenção inicial, com o livro - que é ilustrado por fotos antigas - era fazer o registro afetivo da trajetória de Luiz e Angelita, como forma de manter essa memória viva para a família. No entanto, a obra fala além desses dois personagens. “Fala também sobre um tempo e um lugar, fala sobre a cultura de um povo, o sertanejo, que conhece bem o real valor de uma boa chuva, de uma boa colheita, das dificuldades de se sobreviver na caatinga. Fala, ainda, de costumes, de como era a vida em meados do século XX na região do Seridó. Fala especialmente sobre memórias: faladas, escritas e esquecidas”.