Escrito por: Bruna Torres

CBTU na mira da privatização: Governo Federal avança com projeto entreguista

O pregão eletrônico para contratação dos serviços técnicos necessários para a estruturação do projeto relativo à desestatização da Companhia foi publicado na tarde desta terça-feira (19)

Joan Pedro
Privatização da CBTU pode levar à extinção dos trens urbanos em Natal

O pregão eletrônico para contratação dos serviços técnicos necessários para a estruturação do projeto relativo à desestatização da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) foi publicado na tarde desta terça-feira (19). Isso significa que o projeto entreguista do governo Bolsonaro tem avançado e cumprido as datas previstas, conforme anunciado logo após a divulgação da lista de empresas que estão no Plano Nacional de Desestatização (PND). A previsão é que o leilão aconteça no primeiro semestre de 2022. 

Jorge Luiz, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Transportes Ferroviários e de Transporte Sobre Trilhos no Estado do Rio Grande do Norte (Sintefern), tem feito mobilização interna e externa, entre campanhas e atividades que vão contra o projeto de privatização. 

Uma das intenções do dirigente do Sindicato é encontrar a governadora Fátima Bezerra para dialogar com e discutir a possibilidade da chefe do executivo negar a entrega da Companhia ao governo do Estado do RN. Isso porque a constituição não permite que as empresas estatais sejam privatizadas diretamente, antes de leiloadas à iniciativa privada as empresas devem passar pelo processo de estadualização.  

Além dessa medida, o Sintefern tem realizado campanhas nas estações de trem contra a venda da empresa e recolhido assinaturas que devem ser digitalizadas e entregues aos parlamentares do estado posteriormente.  

O presidente do sindicato conta que a maior luta para eles é manter a empresa federal. Ele alerta inclusive que os números de arrecadação diária da CBTU RN não são interessantes à iniciativa privada, dada a quantidade de usuários médios por dia. São cerca de 15 mil passageiros, sendo Ceará-Mirim/Natal a linha com maior fluxo e mais usuários. Esses valores geram uma coleta de R$ 15 mil por dia, aproximadamente, isso porque se cobra um valor justo pelas passagens que dá possibilidade de acesso a maior parte da população, principalmente porque são as pessoas de baixa renda que fazem o maior uso do trem. 

Mas em contrapartida, a manutenção da estrutura, somado ao óleo e as despesas com funcionários custam um valor alto que é custeada pelo subsídio do Governo Federal que precisa cumprir seu papel social em garantir o transporte público aos menos abastados. 

Uma outra preocupação do dirigente do Sintefern é a tensão que se instalou entre os trabalhadores/as da CBTU, que acompanham as notícias sobre o célere interesse em privatizar a Companhia. Segundo Jorge Luiz, os funcionários não acreditavam que o passo a passo aconteceria tão rápido, além de se preocuparem com a garantia do emprego. 

Nos últimos anos, a empresa realizou um estudo e arquitetou um projeto de ampliação dos trens que os integraria com o resto da capital do RN, levando os trilhos a cruzar a Zona Leste chegando à Zona Sul, ou seja, passando pelo maior shopping da cidade com destino à Universidade Federal. Mas não houve interesse do governo federal em acrescer, pelo contrário, nos últimos anos, a receita destinada às companhias diminuiu em todo o Brasil. 

Em capitais maiores, como Recife e Belo Horizonte, onde a CBTU também funciona, os trens são integrados com os outros transportes públicos da cidade e por isso estão mais seguras frente às ameaças, inclusive porque têm um fluxo de passageiros maior.